"Preta brasileira", de Juliana Ribeiro, ganha clipe

Samba da cantora baiana sobre a mulher afro-brasileira na contemporaneidade sonoriza vídeo recém-lançado, no qual dez negras e mestiças participaram

Com informações da assessoria de comunicação da artista

Inspirada na própria vivência de Juliana, canção questiona e exalta a mulher negra na atualidade
Divulgação

Com letra irreverente, que versa acerca do panorama da mulher afro-brasileira atual, o samba Preta brasileira, composto e interpretado por Juliana Ribeiro, teve seu clipe lançado recentemente. A elaboração do material resultou de uma parceria entre o diretor Fábio Vaz e a jornalista e produtora Renata Menezes, ambos integrantes da equipe do programa semanal Mosaico Baiano, da TV Bahia, afiliada local da Rede Globo.

Gravado no estúdio do Coletivo Ousar, em Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador, o clipe contou com a colaboração de Sidney Rocharte na fotografia. Segundo a assessoria de imprensa de Juliana, o projeto do vídeo de divulgação foi concebido sob o prisma de nove mulheres e uma criança, todas negras, mestiças e brasileiras, que passaram por situações idênticas às abordadas na letra da canção que o sonoriza.

O clipe de Preta brasileira contou com a participação de figuras femininas afrodescendentes corajosas e atuantes – Adriana Quintanilo, Flávia Botelho, Hávata West, Luciana Embilina, Luislinda Valois (primeira juíza negra do Brasil, desembargadora aposentada e atual secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça), Olívia Santana (secretária de Políticas para as Mulheres do estado da Bahia), Samira Soares e Sueide Kintê (jornalista), além da menina Sofia Matos, de 9 anos, e de Larissa Ferreira, fã da cantora e ganhadora do concurso para participar do vídeo.

Objeto de discussão

Lançado em 21 de julho, em evento na Sala de Arte do Museu Geológico da Bahia, no Corredor da Vitória – com a presença das dez participantes, como estratégia de antecipar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 daquele mês –, o clipe da música de Juliana Ribeiro foi reexibido em 19 de novembro, no Teatro Vila Velha. Na ocasião, serviu de abertura para seu espetáculo, também denominado Preta brasileira, às vésperas do Dia Nacional da Consciência Negra.

Posteriormente ao seu lançamento, o registro audiovisual de divulgação do samba percorreu institutos e universidades por meio da iniciativa intitulada Preta nas Escolas. Na ação, a artista, que também é historiadora e pesquisadora – é mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) –, utilizando-se do clipe, discute temáticas vinculadas às questões de gênero e raciais, perspectivas articuladas entre si. “A mulher negra que está na minha canção está também no mercado de trabalho, chefiando famílias e dirigindo setores”, afirmou.

A letra de Preta brasileira (veja abaixo) questiona e enaltece a personalidade feminina negra na atualidade, alicerçada na própria vivência de Juliana. De acordo com a cantora, o conceito da música “fala do lugar da mulher contemporânea, de seus desafios cotidianos e situações inusitadas que precisa enfrentar com jogo de cintura e irreverência”. E finalizou: “Preta brasileira é essa mulher que trabalha, é mãe e mesmo assim arranja tempo para se produzir, seduzir e fazer suas próprias escolhas”.

Assista ao clipe abaixo e acompanhe a letra da música a seguir



Preta brasileira
(Juliana Ribeiro)

Se vou à praia, eu pego “aquele bronze”
Fico linda demais!
Homem*: – Psiu, morena
Homem: – Da cor do pecado, hein?
– Se liga, rapaz!

Mas se solto o black, a coisa muda de figura
Afirmo quem sou
Homem: – Que preta bonita!
Homem: – Jogou no black power!
– Agora me encantou!

Se vou ao shopping, sempre um segurança
Me olhando de lado
Pro passaporte, eu prendo meu cabelo
Pra não ser “reprovado”

Entre os ativistas, sou sempre a desbotada
Assim não dá!
Sou preta brasileira, cansei dessa besteira
Agora eu vou falar:

Eu sou a negra clara, a mulata escura
A mistura do ser
O hibridismo da raça, a negra “tinta fraca”
Onde o Brasil se vê

Eu sou Yara e Oxum, Tupi, Olorum
Macunaíma e dendê, ô!
Salve, meu São Benedito, que a todos tem dito
– Sou preta, sim
– Mas só você que não vê!

Voz: Juliana Ribeiro; arranjos e violão: Duarte Velloso; flauta: Luciano Chaves; baixo: André Tiganá; percussão: Ricardo Hardmann; cavaquinho: Sérgio Müller.

* A voz masculina que consta nos diálogos foi gravada pelo ator de teatro Diogo Lopes Filho.

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