Juliana Ribeiro estreia nova temporada de shows

Em seu novo espetáculo Preta Brasileira, que começa na sexta-feira, cantora e compositora promove um diálogo multiartístico entre música, poesia e teatro no palco do Solar Boa Vista

Com informações da assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura da Bahia

Versátil, Juliana faz da música um canal para reverenciar outras expressões artísticas
(Foto: Sidney Rocharte/Divulgação)

Música, poesia e teatro agregados em um único conceito. Ao se fundirem, essas três linguagens heterogêneas produzem uma fascinante experiência multiartística, sintetizada no novo espetáculo de Juliana Ribeiro. No show que a cantora, compositora e pesquisadora fará na alta estação, intitulado Preta Brasileira, as músicas, interpretadas por personagens, se acoplam com poemas, por sua vez misturados com canções.

Com concepção e direção artística da própria Juliana, acrescentadas à competente direção musical de Duarte Velloso e Ricardo Hardmann, a sequência de três shows de verão, a ser realizada no Cine Teatro Solar Boa Vista, no Engenho Velho de Brotas, estreia nesta sexta-feira (19), a partir das 20:30. As apresentações seguintes, já em 2015, vão acontecer nos dias 16 de janeiro e 20 de fevereiro, sempre às sextas-feiras e no mesmo horário.

A fórmula frutificante e harmoniosa de Preta Brasileira é idêntica à de temporadas passadas da cantora baiana, transformando a música em um canal para reverenciar outras expressões culturais e evocar temáticas que, ao dialogarem com a poesia e o teatro, ganham força. No espectro poético, ela escolheu como parceiros Cecília Meireles (1901-1964), Vinícius de Moraes (1913-1980) e Paulo Leminski (1944-1989).

O projeto ainda traz duetos cênicos entre a artista e o ator Pedro Rosa de Moraes. No palco, ambos selarão um verdadeiro pacto entre a música e o teatro, imprimindo um ambiente divertido e interativo às apresentações. “O show tem a música como pano de fundo para dialogar com o teatro, a poesia e a arte performática”, esclarece a carismática e versátil anfitriã, detentora de uma aplaudida performance de palco e admirada por sua formosa e suave sonoridade vocal.

Inéditos e clássicos

De autoria de Juliana, a inédita Preta brasileira é uma narrativa cujas premissas são a miscigenação racial e as múltiplas denominações para os tons de pele dos constituintes do povo brasileiro. Sua letra explícita e irreverente, cristalizada na própria vivência da cantora e compositora, descreve a mulher negra na contemporaneidade. “A ideia é abordar temas atuais e agregar várias linguagens dentro do show, dando vida aos personagens que compõem cada canção”, salienta.

Além do número autoral homônimo, o repertório do show híbrido, que contará ainda com o precioso auxílio dos músicos André Tigana, Luciano Chaves, Sérgio Müller e Tedy Santana, inclui outras três novas canções: Canto de Olorum, de Gerônimo; Cantador do sertão, de Seu Reginaldo Souza; e Rainha Ginga, tributo da artista à eterna sambista Clementina de Jesus (1901-1987), feito em parceria com Lia Chaves.

Dois clássicos da Música Popular Brasileira (MPB) também terão a brilhante missão de incrementar o espetáculo multiartístico. Obra-prima do maranhense João do Vale (1934-1996) e do fluminense José Cândido (1914-1989), imortalizada por uma promissora Maria Bethânia há quase cinquenta anos, Carcará ganha uma releitura inédita, ancorando um discurso reflexivo de Juliana que denuncia a prostituição infantil no Nordeste do país.

Galope, canção assinada por Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (1945-1991), e datada de 1974, remete ao baião, ritmo universalizado nacionalmente por seu pai, o eterno Luiz Gonzaga (1912-1989). Por meio da execução dessa obra visceral, Juliana Ribeiro permitirá o diálogo com os aspectos poéticos e teatrais solidificados pela cantora.

Entre as grandes surpresas de Preta Brasileira, Juliana recepcionará o público com uma autêntica saudação de boas-vindas que ela mesma escolheu para iniciar cada apresentação, na qual promete convidar um nome do cenário local ou nacional. Como um presente de Olorum, o deus supremo na mitologia afro-brasileira, a anfitriã subirá ao palco com todo o esplendor após surgir do teto do Cine Teatro Solar Boa Vista.

A cenografia do espetáculo performático será enriquecida com projeções fotográficas concebidas pela antropóloga e doutora em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gal Meirelles. No show de estreia da série, a exposição A cor do invisível terá o propósito de interagir com outros elementos cênicos especialmente selecionados para compô-lo. Em cada uma das três apresentações, haverá uma exibição fotográfica diferente.

Ancestralidade sonora

Juliana Ribeiro, cujo trabalho musical deriva de pesquisas que lhe deram os títulos de licenciada em História pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal) e mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba – sua dissertação versa sobre as raízes do samba urbano carioca –, traz para o palco nesta temporada ritmos ancestrais diversificados, como o lundu, o batuque, o vissungo (dialeto africano falado até hoje no Sudeste do Brasil), o coco de roda e o maxixe, chamado pela cantora e compositora de “avô do samba”.

Nessa perspectiva, ela apresentará um repertório cronológico que engloba três séculos de canção, do XIX ao XXI, possibilitando a seus apreciadores um retrospecto histórico do samba, através de composições de ícones como Paulinho da Viola, Roque Ferreira, Zé Kéti (1921-1999) e José Barbosa da Silva, o Sinhô (1888-1930). Para Juliana, a origem do gênero, nascido na Bahia, é narrada pela própria música.

A filosofia de Preta Brasileira não se restringe exclusivamente às encenações musicais, poéticas e teatrais, uma vez que o lado afetivo da cantora não será esquecido no projeto. Neta de Herondino Joaquim Ribeiro, um dos onze estivadores que fundaram o afoxé Filhos de Gandhy, a artista terá o privilégio de reverenciar os 66 anos de existência da tradicional agremiação carnavalesca. Para quem manifesta apreço pela arte de qualidade, vale a pena conferir os dotes desse gênio feminino genuinamente afro-brasileiro.

Cantora também traz para o palco ritmos ancestrais do samba
(Foto: Divulgação)

Serviço

Espetáculo: Preta Brasileira
Artista: Juliana Ribeiro
Concepção e direção artística: Juliana Ribeiro
Direção musical: Duarte Velloso e Ricardo Hardmann
Período e horário: 19 de dezembro de 2014, 16 de janeiro de 2015 e 20 de fevereiro de 2015 (sextas-feiras), sempre a partir das 20:30
Local: Cine Teatro Solar Boa Vista
Endereço: Parque Solar Boa Vista, s/nº, Engenho Velho de Brotas – Salvador – BA
Ingressos: R$ 20 (meia mediante doação de 1 kg de alimento não perecível) e R$ 40 (inteira)

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