Aids surgiu no Congo nos anos 1920, afirmam cientistas

Entre os fatores propagadores da doença em escala mundial estão a construção de ferrovias no país africano e o uso de seringas compartilhadas


Com informações do portal iBahia

Vírus HIV apareceu inicialmente em Kinshasa, capital do Congo

(Ilustração: Divulgação)

Através da reconstituição do caminho do vírus da imunodeficiência humana (HIV), pesquisadores europeus chegaram à conclusão de que o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), antes de se expandir por todo o mundo, teve sua gênese na cidade de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, na África, na década de 1920.

Um estudo elaborado pelos cientistas das universidades de Oxford, na Inglaterra, e Lovaina, na Bélgica, detectou uma sequência de fatores propagadores da doença em escala global. Entre as causas estão o rápido processo de urbanização, a construção de ferrovias no Congo, o desenvolvimento dos transportes, as mudanças sociais, o surgimento dos profissionais do sexo que atendiam uma grande quantidade de clientes e um enorme acesso ao uso de seringas, já compartilhadas por usuários de drogas.

"Nossa investigação sugere que houve um pequeno momento na época do Congo Belga que permitiu a esta cepa do HIV, em particular, emergir e se propagar", declarou o professor Oliver Pybus, do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, um dos autores da pesquisa.

Ferrovias

Para Nuno Faria, também pesquisador de Oxford, informações extraídas dos arquivos coloniais indicam que, no final dos anos 1940, mais de um milhão de pessoas transitaram anualmente por Kinshasa via transporte ferroviário. "Os dados genéticos nos dizem também que o HIV se propagou muito rapidamente através do Congo, de uma superfície equivalente à Europa Ocidental, deslocando-se com as pessoas pelas ferrovias e hidrovias", salientou.

Os estudiosos analisaram ainda que as migrações, constantes naquela época, permitiram estabelecer os primeiros focos do vírus da Aids. "Acreditamos que mudanças na sociedade se deram no momento da independência do Congo, em 1960, e, provavelmente, o vírus pôde escapar em pequenos grupos de pessoas soropositivas para infectar populações mais amplas, antes de se propagar pelo mundo no fim da década de 1970", acrescentou Nuno, que foi o coautor do estudo.