Surdo incluído é surdo bem instruído

Entrevista: Rita Solange
 
De acordo com intérprete de Libras de uma escola da rede pública de Simões Filho, os deficientes auditivos que vivem no município precisam estudar, porém atualmente há um déficit de intérpretes e professores qualificados para ensiná-los

“Quando fui à casa de um surdo e vi a dificuldade que a família tinha de se comunicar com ele, a escola não o aceitava.”
(Foto: Hugo Gonçalves)
 
Intérprete da língua brasileira de sinais, a famosa Libras, no Colégio Municipal Padre Luiz Palmeira, em Simões Filho, Rita Solange Lima Matos sempre observou as veredas tortuosas pelas quais os surdos percorrem. No âmbito de sua dedicada profissão, compete à professora Rita, como é conhecida, a missão de traduzir simultaneamente as aulas de Português, Matemática e Ciências, para que os alunos surdos entendam cada lição.
 
A docente, que atua na área de educação inclusiva ou especial, raciocina que, na cidade da Região Metropolitana de Salvador, praticamente não há intérpretes qualificados na rede pública de ensino. Além disso, Rita cita a necessidade dos deficientes auditivos simõesfilhenses em estudar, porém não há escolas adequadas para que eles prossigam seus estudos, “visto que há um déficit de intérpretes e, principalmente, também de professores que queiram também se qualificar para ensiná-los”.
 
Não obstante, o Poder Público local já encontrou uma saída para o referido problema. Rita Solange examina que os estabelecimentos de ensino em Simões Filho agora estão disponibilizando pessoal encarregado da educação inclusiva através da implantação de polos.
 
“Quanto à saúde, a gente está querendo criar a Associação dos Surdos, justamente para que tenham pessoas que possam ter intérpretes para cada setor”, reivindica a intérprete de Libras, que continua aperfeiçoando as habilidades cognitivas em seu campo de especialização numa instituição particular de ensino superior de Salvador, a faculdade Unime.
 
Descreva um pouco de sua trajetória profissional ao lado dos surdos.
 
Rita Solange – Minha trajetória é o seguinte: desde quando eu fui à casa de um surdo e vi a dificuldade que a família tinha de se comunicar com ele, e ele de ter uma educação, porque a escola antes não aceitava o deficiente surdo. Como testemunha de Jeová, que ia na casa deles, eu sempre via essas dificuldades que ele tinha. Então, eu me mobilizei juntamente com algumas colegas e fomos até a Secretaria de Educação expor isso. Daí para cá, eu trabalho na área de inclusão, junto com eles, me especializando também para poder atendê-los, e eu vi que muitos surdos progrediram, (mas) infelizmente outros só chegaram até o 9º Ano. Não têm aqui no município ainda ou no estado (programas) para eles avançarem no segundo grau (Ensino Médio), aí eles têm que ir para outros estados.
 
Qual é o seu ponto de vista com relação à metodologia de instrução especial para surdos?
 
R. S. – Eu estou achando pouco deficiente aqui no município, Simões Filho, porque ele ainda não tem assim, praticamente, intérpretes qualificados em sala de aula. Isso dificulta muito o desempenho deles nas salas de aula.
 
Você espera que o Poder Público necessite ampliar a rede de educação de surdos em Simões Filho?
 
R. S. – Com certeza. Porque muitos deles estão precisando estudar, mas não têm escolas para que eles possam continuar com os seus estudos, visto que há um déficit de intérpretes e, principalmente, também de professores que queiram também se qualificar para ensiná-los.
 
Rita trabalha no Colégio Municipal Padre Luiz Palmeira (acima), onde atua como tradutora, para surdos, das aulas de três disciplinas
(Foto: Hugo Gonçalves)
 
Como são prestados, no âmbito do município, os serviços de atendimento em educação e saúde para as pessoas com deficiência?
 
R. S. – Em educação, eu posso dizer o seguinte: agora estão tendo, na Secretaria de Educação, justamente, as pessoas que vão cuidar da educação inclusiva. Então, nós estamos montando polos nas escolas para ver quantos deficientes têm para atendê-los a cada um. Quanto à saúde, realmente por isso que a gente está querendo criar a Associação dos Surdos, justamente para que tenham pessoas que possam ter intérpretes para cada setor, e eles possam explicar a respeito do que eles possam lutar pelos seus direitos, porque atualmente não têm.
 
E no que concerne ao exercício do esporte e do lazer, o que os surdos almejam?
 
R. S. – Aqui (em Simões Filho), não tem esporte nem lazer. O município não fornece isso. Então, é tanto que eles vão para outros municípios, como Camaçari e Salvador, para poder obtê-los, porque, infelizmente, aqui no município, não se encontra nada que venha assim ter lazer para o surdo.
 
A quais níveis de escolaridade pertencem os surdos que são atendidos nas escolas de Simões Filho?
 
R. S. – Aqui, os surdos são atendidos até o 9º Ano do Fundamental II. Só que depois eles vão para o Colégio Estadual João das Botas, em Salvador. Já têm surdos que já estão fazendo faculdades, têm surdos que já foram para São Paulo também fazer faculdade, e têm surdos, também, que já completaram todo o Ensino Fundamental e estão trabalhando em empresas.
 
Hoje, o segmento das pessoas com deficiência não há nenhum representante na esfera política brasileira, sobretudo no Legislativo. O que você cogita para que esse quadro seja revertido?
 
R. S. – É que realmente os próprios surdos possam se manifestar e eleger sua pessoa, para que possa lutar por eles, porque a gente vê que a luta é árdua. Enquanto os surdos não se mobilizarem, vão ficar realmente aqui em Simões Filho, mesmo como excluídos.

Comentários