Maior parte dos professores brasileiros não tem licenciatura

Segundo pesquisa, docentes que dispensam formação em suas áreas no país alcançam percentuais superiores à metade
 
Com informações da Agência O Globo
 
Somente 32,8% dos professores do Fundamental são licenciados; maioria concentra-se no Sudeste
(Foto: Divulgação)
 
Pesquisa divulgada pelo Movimento Todos pela Educação certifica que, no Brasil, 67,2% dos professores dos anos finais do Ensino Fundamental não possuem licenciatura nas disciplinas que ensinam. Já no Ensino Médio, cujas diretrizes curriculares exigem licenciatura em sua área, chega a 51,7% o percentual de docentes sem formação universitária específica adequada.
 
Os dados estatísticos, coletados em 2013, foram consolidados pela organização não governamental (ONG), tendo por parâmetro o Censo Escolar, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal subordinada ao Ministério da Educação (MEC).
 
Segundo o levantamento, num universo estimado em 1.354.840 educadores do Ensino Fundamental no país, 444.127 professores, equivalentes a 32,8%, têm licenciatura em suas respectivas matérias. Nessas circunstâncias, a maioria deles dá aulas de Língua Portuguesa (46,7%), Educação Física (37,7%) e Línguas Estrangeiras (37,6%). As disciplinas com menores proporções de licenciados são Geografia (28,1%), Filosofia (10%) e Artes (7,7%).
 
As matérias do Ensino Médio que registraram parcelas majoritárias de docentes ostentando diploma acadêmico em suas próprias disciplinas são Língua Portuguesa (73,2%), Educação Física (64,7%) e Matemática (63,4%). No entanto, de acordo com a pesquisa, Artes (14,9%), Física (19,2%) e Filosofia (21,2%) são áreas escolares que detêm cifras menores.
 
Para a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, existe uma carência na qualificação de docentes no Brasil. Ela pondera, nessa conjuntura, que “há poucos jovens querendo ser professores”. “Ainda não resolvemos o problema nem no quantitativo, nem no qualitativo”, argumentou.
 
Na mesma linha de raciocínio de Priscila está o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. “O resultado reflete um problema grave, que é a atratividade da carreira docente. E representa um desafio: garantir atratividade da profissão. Isso passa pela remuneração e também por condições de trabalho”, examinou.
 
Diretora de ONG, Priscila Cruz admite falta de qualificação de docentes no país
(Foto: Alexandre Ondir)
 
Docentes por região
 
A pesquisa apresentou, além da quantidade de professores distribuída por disciplina, evidências no que tange às distorções regionais. Os dados obtidos pelo Todos pela Educação verificaram um panorama desfavorável no Nordeste. A região, que engloba 9 estados, concentra proporções muito inferiores de mestres licenciados, nos níveis Fundamental, com 17,6%, e Médio, com 34%.
 
Em contraste com o preocupante quadro educacional nordestino, a ONG observou que a região Sudeste, que contempla 4 estados, possui altos números de mestres que lecionam no Fundamental, correspondentes a 52,9%, enquanto o Sul, com 3 estados, abrange grande parcela dos docentes do Ensino Médio, com proporção calculada em 58,1%.
 
Na acepção da coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ), Marta Moraes, o resultado implica o crônico déficit de universidades no país. “Falta investimento em universidades públicas. Sem formação específica, o professor é um leigo, um quebra-galho”, elucidou a sindicalista.
 
Valorizar corpo docente é prioridade
 
Mesmo tendo à frente o desafio de melhorar a qualidade do ensino público, o Brasil precisa equacionar uma questão considerada prioritária: a valorização dos seus professores. Dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados no final do ano passado, revelaram que nações com melhor desempenho educacional são aquelas que tornam a profissão atrativa aos jovens mais talentosos, egressos do Ensino Médio.
 
Esse não é o caso do nosso país. A situação brasileira, porém, causa vergonha aos docentes. Apesar de alguns progressos na categoria, a condição salarial continua baixa, ao ser equiparada com outras ocupações universitárias, além da pretensão de poucos jovens em seguir a carreira docente e da mínima formação em cursos de licenciatura nos últimos anos.
 
De acordo com um levantamento feito com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os professores tiveram, desde 1995, um aumento médio em sua renda, superior em relação aos demais profissionais com Ensino Superior completo.
 
Em 2012, por exemplo, um professor do Ensino Fundamental I, que dá aulas para crianças de 6 a 10 anos, recebia em média 57% do salário entre esses profissionais que também cursaram o nível superior. Já entre aqueles que lecionam no Médio, o percentual aumentou para 70%. As proporções registradas em 1995 eram 39% para os docentes do Fundamental I e 51% para os do Médio.

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