Espanha de luto: morre, aos 81 anos, Adolfo Suárez

Político falecido ontem foi um dos responsáveis por devolver a democracia ao país no período pós-franquista
 
Com informações das agências
 
Suárez sofria de mal de Alzheimer e não aparecia em público desde 2003
(Foto: Arquivo/AFP)
 
Peça decisiva no sensível processo de transição democrática após a ditadura franquista, o ex-presidente do governo da Espanha, Adolfo Suárez, morreu no último domingo (23), aos 81 anos, em Madri. Suárez, que lutava contra a doença de Alzheimer, estava internado num hospital da capital espanhola, o Centro Clínico de Madrid, com problemas respiratórios e neurológicos.
 
A informação sobre a morte do ex-chefe de governo espanhol, que não aparecia publicamente desde 2003, foi dada pelo porta-voz da família, Fermín Urbiola, em frente ao hospital onde se encontrava internado desde a segunda-feira passada (17), com pneumonia, segundo a agência France Presse.

A causa da morte, de acordo com a médica Isabel de la Azuela, foi “doença obstrutiva pulmonar crônica, agravada pelo quadro do mal de Alzheimer”. Viúvo de Amparo Illana, falecida em 2001, Suárez teve cinco filhos.

Restaurador da liberdade
 
Formado em Direito, Adolfo Suárez, nascido em 1932 na cidade de Cebreros, na província de Ávila, região central da Espanha, foi um dos artífices da restauração da democracia no país ibérico, posteriormente à decadência de um dos mais longos regimes totalitários da história universal, conduzido pelo general Francisco Franco (1892-1975), introduzido com o golpe militar de 1936 e consolidado em 1939, com o término da Guerra Civil.

Suárez ocupou alguns cargos fundamentais durante o governo franquista, como o comando do partido de sustentação do regime, o Movimento Nacional – único oficializado na época , e a diretoria-geral da emissora estatal de televisão Radiotelevisión Española (RTVE), em especial no crepúsculo da ditadura.
 
Um ano após a morte de Franco, em 1976, o rei Juan Carlos de Bourbon fez de Suárez primeiro líder dos espanhóis na fase democrática. Em seu mandato, foram aprovadas leis que reconheciam liberdades, como a anistia, legalizados os partidos políticos (inclusive o Partido Comunista) e os sindicatos, convocadas eleições livres em 1977 e elaborada a Constituição, promulgada em 1978 e que perpetua até a atualidade, graças ao consenso das forças políticas.
 
O partido fundado por Adolfo Suárez, a União de Centro Democrático, estava dividido, fazendo com que o ex-presidente espanhol seja questionado progressivamente dentro e fora de sua legenda.

Renunciou ao cargo em janeiro de 1981, semanas antes de uma tentativa de golpe de Estado, ocorrido em 23 de fevereiro, quando foi eleito seu sucessor, seu ex-ministro Leopoldo Calvo-Sotelo (1926-2008). Suárez aposentou-se do cenário político em 1991.

“Transformou uma nação velha num país democrático”

Várias autoridades do país manifestaram pesar pelo falecimento de Suárez, entre elas o ex-premiê José Luis Rodríguez Zapatero. Em nota divulgada pelo socialista, ele “liderou a transformação de uma nação velha e rasgada num país democrático e reconciliado consigo mesmo”. Zapatero escreveu ainda que a Espanha vivencia uma ocasião em que sentimentos e elogios não podem ser contidos.

Deputado no período da transição entre o franquismo e a democracia espanhola, o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Federico Mayor Zaragoza, assinalou que Suárez vai passar para a história, tanto do país quanto do mundo, “como o grande construtor do atual sistema democrático”.

Zaragoza prosseguiu sua mensagem de condolências, argumentando que o complicado regresso à democracia foi efetuado por intermédio de virtudes como “a serenidade, a capacidade de escutar, a imaginação e a genialidade”. O rei Juan Carlos definiu, em nota de pesar, o ex-chefe de governo, nas qualidades de “um colaborador excepcional e um amigo leal”.

Comentários