Interconexões: panorama histórico-evolutivo da internet e seus mecanismos de funcionamento

Maior sistema de comunicação desenvolvido pela humanidade, a internet, conforme artigo de Kellen Cristina Bogo (2005), “é um conjunto de redes de computadores interligadas que tem em comum um conjunto de protocolos e serviços, de uma forma que os usuários conectados possam usufruir de serviços de informação e comunicação de alcance mundial”. Em um trabalho acadêmico acerca da história da internet, o graduando Wesley Henrique Pereira Mendes (2010) afirma que não há nenhum gerenciamento centralizado para ela. Trata-se de um conjunto de milhares de redes e organizações subordinadas; cada uma delas é administrada e sustentada por seu próprio usuário.

Cada rede individual contribui, em sinergia com outras redes e organizações, para gerenciar o tráfego da internet, de modo que as informações possam transitar livremente, integrando o mundo conectado da internet. No entanto, para efetuar essa cooperação, é necessário um consenso geral sobre procedimentos e padrões para protocolos, dentre outros itens, encontrados em Requests for Comment (RFC), ou solicitações para comentários, sobre os quais os usuários e organizações estão de acordo (MENDES, 2010).

O embrião do que atualmente é a rede internacional de computadores foi gestado em 1969, em plena Guerra Fria, pela empresa estadunidense Advanced Research and Projects Agency (ARPA). Batizada com a denominação ARPANET, a estratégia conjunta de quatro instituições de ensino superior dos Estados Unidos – Universidade da Califórnia em Los Angeles, Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, Instituto de Pesquisa de Stanford e Universidade de Utah (MENDES, 2010) – objetivava conectar os departamentos de pesquisa e proteger a comunicação das bases militares dos Estados Unidos, extremamente vulnerável a ataques nucleares da extinta União Soviética (BOGO, 2005).

Toda a comunicação da ARPANET passava por um computador central que se encontrava no Pentágono, a sede do Departamento de Defesa americano, na cidade de Washington, capital dos EUA. De acordo com a autora, os cientistas das universidades e de outras instituições que desenvolviam trabalhos inerentes à defesa, na década de 1970, tiveram autorização para se conectar à ARPANET. Para se ter uma ideia do crescimento da rede, em 1975, existiram aproximadamente 100 sites. A ARPANET obteve uma dimensão extraordinária no final dos anos 1970, ocasionando a inadequação do seu protocolo de comutação de pacotes original, o Network Control Protocol (NCP) (Idem, 2005).




Os pesquisadores que mantinham a ARPANET estudaram como o crescimento alterou o modo de como as pessoas usavam a rede. Anteriormente, os pesquisadores haviam presumido que manter a velocidade da ARPANET alta o suficiente seria o maior problema, mas na realidade a maior dificuldade se tornou a manutenção da comunicação entre os computadores (ou interoperação). (Idem, 2005)

Após algumas pesquisas, a ARPANET decidiu substituir o já obsoleto NCP por um novo protocolo, designado Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP), sistema de protocolos considerado o alicerce da atual Internet. Implementado pela Universidade da Califórnia em Berkeley, através do sistema operacional Unix, o TCP/IP, em seu estágio primitivo, impulsionou a convergência de vários centros de ensino superior à ARPANET (MENDES, 2010). Mais tarde, as universidades dos EUA transferiram-na para as universidades e os centros de pesquisas de outros países, possibilitando o seu acesso em âmbito doméstico (BOGO, 2005).

Em 1985, a entidade científica americana National Science Foundation (NSF) conectou os supercomputadores do seu centro de pesquisa, a NSFNET, que no ano subsequente foi incorporada à ARPANET. Com essa integração, a ARPANET e a NSFNET passariam a ser as duas espinhas dorsais (backbones) de uma nova rede global, a qual anos mais tarde se chamaria Internet, constituída junto com os demais computadores ligados a elas (MENDES, 2010). Kellen Bogo (2005) explana que, também na segunda metade dos anos 1980, grandes companhias americanas do ramo de telecomunicações começaram a se interessar pela fabricação e comercialização de equipamentos específicos, como roteadores.

O formato visual da rede como observamos hoje foi proposto no final da mesma década, mais especificamente em 1989, pelo cientista inglês Tim Berners-Lee, membro do Conselho Europeu de Pesquisa Nuclear, com a invenção da World Wide Web (WWW). “Este sistema nasceu para ligar as universidades entre si para que os trabalhos e pesquisas acadêmicos fossem utilizados mutuamente em um ambiente de contribuição dos lados envolvidos” (BARWINSKI, 2009). Berners-Lee também foi o responsável pela concepção de duas ferramentas indispensáveis para o funcionamento da internet, o protocolo Hypertext Transfer Protocol (HTTP) e o código Hypertext Markup Language (HTML) (Idem, 2009).




(...) Com o surgimento da World Wide Web, esse meio foi enriquecido. O conteúdo da rede ficou mais atraente com a possibilidade de incorporar imagens e sons. Um novo sistema de localização de arquivos criou um ambiente em que cada informação tem um endereço único e pode ser encontrada por qualquer usuário da rede. (BOGO, 2005)

A ARPANET, fase embrionária da internet, foi desativada somente em 1990, sendo substituída por um novo backbone, o Defense Research Internet (DRI). Entre os anos de 1991 e 1992, enquanto pesquisadores da entidade Advanced Network and Services (ANS), dos EUA, conceberam o backbone principal da internet, o ANSNET, os europeus iniciaram o desenvolvimento de outro backbone, o Ebone, interligando alguns países da Europa à internet (MENDES, 2010). Conforme o autor, “a partir de 1993 a Internet deixou de ser uma instituição de natureza apenas acadêmica e passou a ser explorada comercialmente (...), abertura esta em nível mundial” (Idem, 2010).

Por trás da recente expansão da internet, está a disponibilidade de serviços de diretório, indexação e pesquisa, por meio de páginas denominadas buscadores ou mecanismos de busca, que auxiliam os usuários da rede, os chamados internautas, a descobrir conteúdos e informações necessárias (BOGO, 2005). A maioria desses serviços de armazenamento, que rapidamente evoluiu para serviços comerciais, germinou em função de pesquisas efetuadas em universidades dos EUA (Idem, 2005), como o Yahoo!, fundado em fevereiro de 1994 por David Filo e Jerry Yang, estudantes de Ph.D. em Engenharia Elétrica na Universidade de Stanford, na Califórnia (THE HISTORY..., 2005), e o maior deles, o Google, estabelecido em 1998 por Larry Page e Sergey Brin, também estudantes de Stanford (GOOGLE, s/d).

No Brasil, o sistema de redes de computadores teve sua experiência precursora no final de 1988, quando duas instituições de educação superior do país se conectaram às universidades estadunidenses. Enquanto o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro, assegurou, em setembro do mesmo ano, acesso à Bitnet através de uma conexão de 9.600 bits por segundo efetuada com a Universidade de Maryland, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), dois meses depois, também se ligou à Bitnet por meio de uma conexão estabelecida com o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab), de Chicago (MÜLLER, 2008). Sincronicamente, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) lançou o Alternex, “o primeiro serviço de acesso à internet no Brasil não governamental e não acadêmico” (LOPES, 2012). A princípio, o Alternex era reservado aos afiliados do Ibase e membros, sendo liberada ao público em 1992.

Em 1989, o governo federal instituiu a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), uma operação acadêmica subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que até os dias atuais é o backbone principal, envolvendo instituições, centros de pesquisa, universidades, laboratórios, dentre outros entes participantes. A Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) lançou, em 20 de dezembro de 1994, o serviço experimental intencionando conhecer melhor a internet. Por deliberação dos Ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia, em 1995, a rede mundial foi aberta ao setor privado para exploração comercial da população brasileira (BOGO, 2005).

Os provedores comerciais de internet passaram a lucrar substancialmente em 1997; como reflexo desse fenômeno, o número de usuários começou a incrementar bastante. Porém, os primeiros usuários da rede, em âmbito doméstico, eram indivíduos que já tinham contato significativo com o computador pessoal e dispunham de recursos financeiros para pagar um provedor acrescentado à fatura telefônica. Somente anos depois, a internet se disseminou com a diminuição dos custos e a introdução da conexão em alta velocidade, mais conhecida como banda larga (Idem, 2005). Estima-se que 44% da população do Brasil possui acesso à internet e 97% das empresas estão conectadas à rede (BARWINSKI, 2009).

Referências

BARWINSKI, Luísa. A World Wide Web completa 20 anos, conheça como ela surgiu. In: Tecmundo. Curitiba: No Zebra Network (NZN), 20 mar. 2009. Disponível em: http://www.tecmundo.com.br/historia/1778-a-world-wide-web-completa-20-anos-conheca-como-ela-surgiu.htm. Acesso em: 14 mai. 2012.

BOGO, Kellen Cristina. História da internet. In: Viaki. São Bernardo do Campo (SP), 2005. Disponível em: http://www.viaki.com/home/internet/historia.php. Acesso em: 11 mai. 2012.

GOOGLE. Empresa. Disponível em: http://www.google.com.br/intl/pt-BR/about/corporate/company. Acesso em: 14 mai. 2012.

LOPES, Diego. História do acesso à internet no Brasil. In: Investir Dinheiro. Viçosa (MG), 2012. Disponível em: http://investirdinheiro.org/historia-acesso-a-internet-no-brasil. Acesso em: 14 mai. 2012.

MENDES, Wesley Henrique Pereira. A história da internet. Goiânia: Faculdade Estácio de Sá, fev. 2010. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAzqgAH/historia-internet. Acesso em: 14 mai. 2012.

THE HISTORY of Yahoo! – How It All Started... Sunnyvale (EUA): Yahoo! Inc., 2005. Disponível em: http://docs.yahoo.com/info/misc/history.html. Acesso em: 14 mai. 2012.

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