As revistas, do passado ao futuro

Cidade onde surgiu, há 200 anos, a pioneira revista brasileira, Salvador receberá jornalistas e profissionais de outras áreas comunicacionais em fórum que debaterá o desenvolvimento do mercado da publicação

No mês de janeiro de 1812, o tipógrafo português radicado na Bahia Manuel Antônio da Silva Serva germinou, na sua própria tipografia estabelecida um ano antes, a pioneira da então província, o número inaugural da primeiríssima revista brasileira, As Variedades ou Ensaios de Literatura, com 30 páginas de conteúdo. Redigida pelo também lusitano Diogo Soares da Silva Bivar, um preso político, numa cela do Forte de São Pedro, onde cumpria pena, a miscelânea reunia novelas, anedotas, curiosidades, ensaios filosóficos, resumos históricos, dentre outros textos de caráter literário.

As Variedades computou três únicos exemplares, sendo extinta prematuramente em março daquele ano, quando circularam seus dois números subsequentes – os últimos. Os parâmetros justificadores da abolição do periódico, segundo reportagem do jornalista Sérgio Toniello Filho, da Tribuna da Bahia, publicada em janeiro deste ano, foram o seu quantitativo de circulação irrisório, de aproximadamente 60 exemplares, um absurdo percentual de analfabetismo imperante na arcaica e atrasada Bahia, superior a 90%, e a consequente insuficiência de leitores e de bibliotecas.

Mesmo com a falência precoce do rudimentar e debutante “jornal” – como era chamada a revista em seus primórdios – arquitetado por um detento de origem europeia que desembarcara nos trópicos sul-americanos, a liberdade de imprensa se disseminou e o mercado revisteiro se agilizou em todo o país, tornando-o próspero, produtivo e relevante. Duzentos anos transcorreram e, no bojo desse espaço temporal, inventaram-se, lançaram-se e, por muitas vezes, extinguiram-se dezenas de títulos, acumulando 4 mil, de especificidades e vocações sortidas, dentre os quais fizeram história ou introduziram tendências de vida.

Com a premissa de rememorar o bicentenário da produção revisteira na nossa pátria, bem como a constante evolução do setor, Salvador sugestivamente acomodará o Fórum Revistas Ano 200. Editores e repórteres das plataformas de jornalismo impresso, televisão, rádio e web, diretores de redação e estudantes de Comunicação Social, inclusive Jornalismo, irão comparecer ao encontro gratuito, que será realizado na próxima terça-feira, 3 de abril, no auditório da Associação Baiana de Imprensa (ABI), no edifício Ranulfo Oliveira, sede da entidade, na Praça da Sé, Centro Histórico de Salvador.

Homenagear e discutir

O objetivo basilar do fórum, organizado pela da revista Imprensa em parceria com a ABI, além de prestar tributo aos 200 anos de As Variedades, é dialogar junto aos jornalistas baianos o estado da arte da imprensa brasileira e baiana, influenciado por novas tecnologias contemporâneas e por novos hábitos de consumo da população. Por meio de conferências – de abertura e encerramento – e de três painéis temáticos, conduzidos por renomados profissionais da comunicação local e nacional, o evento possibilitará discussões profundas sobre o passado, o presente e o futuro do panorama de revistas no Brasil nos 200 anos seguintes.

Marcarão presença a editora da revista pernambucana Arrecifes, do Sistema Jornal do Commercio, Janaína Lima; o editor e publisher da revista cearense Fale!, Luís Sérgio Santos; a editora-coordenadora da revista Muito, do Grupo A Tarde, Nadja Vladi; a presidente executiva do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco; o presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), Roberto Muylaert; o secretário estadual de Comunicação Social, Robinson Almeida; o sócio-diretor da agência so+me digital, Sérgio Lüdtke; o jornalista e professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Sérgio Mattos; o assessor parlamentar Tão Gomes Pinto; o professor titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), Venício Artur de Lima; e do vice-presidente da Academia de Letras da Bahia, Waldir Freitas Oliveira.

Repleto de lançamentos e nichos inéditos, o mercado hoje está em progressivo incremento, e os novos avanços tecnológicos contribuem para a manutenção e valorização do seu êxito, como a junção da mídia impressa com o tablet, computador de bolso. Para explicitar esse “casamento” espontâneo, Sérgio Lütdke, que foi editor, entre 2009 e 2011, do portal da revista Época, da Editora Globo, e da versão do periódico para o iPad, abrirá o Fórum Revistas Ano 200 com a conferência “Os dez mandamentos da revista: das tábuas de Moisés aos tablets de Steve Jobs”, uma breve retrospectiva do desenvolvimento das informações, da Antiguidade à pós-modernidade.

O presidente da Aner, Roberto Muylaert, condutor da conferência de encerramento do encontro, “Outros 200: a responsabilidade do jornalista em revista na era digital”, destaca o advento dos e-readers (leitores eletrônicos) como uma oportunidade de adaptar a imprensa clássica às futuras gerações. "Com eles, as qualidades da revista impressa são somadas às possibilidades de complementos visuais para anúncios e para as próprias matérias. Isso é uma boa notícia, a tendência é que a gente tenha uma valorização do conteúdo e quem tem conteúdo tem jornalismo", pondera o executivo, em depoimento ao Portal Imprensa.

Serviço

Evento: Fórum Revistas Ano 200

Data: 3 de abril (terça-feira)

Horários: Recepção: 8:30 às 9 h; Conferência de abertura e painel I: 9 às 13 h; Intervalo: 13 às 14 h; Painéis II e III e Conferência de Encerramento: 14:30 às 19 h

Local: Auditório da Associação Baiana de Imprensa (ABI)

Endereço: Rua Guedes de Brito, 1 – Edifício Ranulfo Oliveira, 7º andar – Praça da Sé, Centro Histórico de Salvador

Programação

9 às 11 h – Conferência de abertura: “Os dez mandamentos da revista: das tábuas de Moisés aos tablets de Steve Jobs”

Painelista: Sérgio Lütdke - Sócio-diretor da agência so+me digital

11 às 13 h – Painel I: “Marco regulatório: liberdade de imprensa na Constituição de 1988 e os Conselhos de Comunicação”
Painelistas: Robinson Almeida - Secretário Estadual de Comunicação Social da Bahia
Patrícia Blanco - Presidente executiva da ONG Instituto Palavra Aberta
Venício Artur de Lima - Professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB e colaborador permanente do Observatório da Imprensa, do portal Carta Maior e da revista Teoria e Debate, publicação da Fundação Perseu Abramo, centro de estudos do Partido dos Trabalhadores (PT)

13 às 14 h – Intervalo

14 às 16 h – Painel II: “Por que as revistas morrem”
Painelistas: Sérgio Mattos - Jornalista, professor da UFRB e autor de livros sobre história e teoria do jornalismo
Waldir Freitas Oliveira - Vice-presidente da Academia de Letras da Bahia
Tão Gomes Pinto - Jornalista e assessor parlamentar, ex-membro-fundador das revistas Veja e IstoÉ

16 às 17:30 – Painel III: “O futuro das revistas”

Painelistas: Janaína Lima - Editora da revista Arrecifes, do Sistema Jornal do Commercio, do Recife (PE)
Luís Sérgio Santos - Editor e publisher da revista Fale!, de Fortaleza (CE)
Nadja Vladi – Editora-coordenadora da revista Muito, do Grupo A Tarde (BA)

17:30 às 19 h – Conferência de encerramento: “Outros 200: a responsabilidade do jornalista em revista na era digital”
Painelista: Roberto Muylaert - Presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner)

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