Parada Gay mescla consciência e alegria nas ruas do Centro

Multidão estimada em 800 mil pessoas tomou conta da festa no último domingo, informa a polícia, porém o GGB contabilizou o número de participantes em 1 milhão

Com informações de A Tarde Online, do Correio* 24 Horas e da Tribuna da Bahia Online

Cerca de 800 mil pessoas compareceram, no último domingo (11), à décima edição da Parada Gay da Bahia, segundo estimativas da Polícia Militar. A manifestação, que aconteceu no Campo Grande, no centro de Salvador, teve como mote “Ser gay não é estranho. Estranha é a homofobia”, despertando a sensação de conscientização do público, em especial dos militantes do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), devido às constantes ocorrências criminais praticadas em detrimento dos homossexuais.

De acordo com o antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott, um dos participantes da festa, a homofobia implicaria na presença de simpatizantes em eventos do segmento porque a maioria dos homossexuais ainda não conseguiu sair do armário. “Por isso, a presença dos heterossexuais e simpatizantes é um fator importantíssimo para quebrar o preconceito e para demonstrar solidariedade e respeito às minorias sexuais”, justifica. Mott assinalou que a parada equivale a apenas um dia anual, no qual a juventude homossexual pode caminhar de mãos dadas e se beijar publicamente, enquanto no restante do ano prevalece a aversão, a intolerância e o ódio.

O presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, em divergência aos números contabilizados pela polícia, acreditou que aproximadamente 1 milhão de pessoas – expectativa calculada pelo órgão – esteve presente na parada, cifra superior em relação ao ano passado. Para o dirigente, o feriado da Independência do Brasil, ocorrido no dia 7 de setembro, possibilitou o aumento do número dos participantes. “Um montão de gente veio para o feriado e acabou ficando para o evento”, declarou Cerqueira à reportagem do jornal Tribuna da Bahia.

A Parada Gay foi precedida por uma concentração no Campo Grande, às 11 h, mas ela se iniciou de fato às 15 h, com discurso de Luiz Mott. Na oportunidade, ele advertiu a respeito dos altos índices de crimes de homofobia computados no estado. “Só neste ano, quinze homossexuais foram assassinados. Bahia não rima com homofobia, rima com alegria”, encorajou-se. Em seguida, houve a coroação da madrinha do evento, a delegada Patrícia Nuno, como rainha. “Quando recebi o convite para ser a madrinha desta festa, me senti honrada e no mesmo instante me pus a serviço da causa de lutar contra o que não é mais possível aceitar”, elogiou Patrícia.

O poder convidado

Dentre os políticos que prestigiaram a manifestação para celebrar as conquistas do movimento LGBT e exigir plenos direitos para os homossexuais, estavam o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), as vereadoras Aladilce Souza e Olívia Santana, ambas do PC do B, Léo Kret (PR) e Vânia Galvão (PT), e a senadora Lídice da Mata (PSB). As ausências do governador Jaques Wagner (PT) e do prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PP), foram questionadas por Luiz Mott, ao serem comparadas com mobilizações do gênero realizadas em outros estados, onde as principais autoridades marcam notórias presenças.

Baiano, eleito pelo estado do Rio de Janeiro, Jean Wyllys, ao discursar no alto do trio elétrico oficial da 10ª Parada Gay, classificou a festa como positiva, porém ele estava inconformado com a falta de politização intensa entre os participantes da última edição. “A presença de músicas de pagode com letras machistas e sexistas contraria a causa do movimento gay”, ponderou, aludindo às canções de duplo sentido prejudiciais à homossexualidade, interpretadas por grupos de pagode locais. Conforme Jean, a capital baiana promove uma das maiores paradas gays do Brasil.

Após pronunciamentos na cerimônia de abertura, a cantora Juliana Ribeiro entoou, num emocionante episódio cívico, intermediário entre a indignação e a alegria, o Hino Nacional. O sentimento de animação, vibração e entusiasmo da multidão se intensificou a partir do desfile dos nove trios elétricos no circuito semelhante ao do Carnaval, entre a Avenida Sete de Setembro e a Praça Castro Alves, dominados pela música eletrônica.

Homens musculosos, travestis e lésbicas dançaram sem parar ao som que emanou das aparelhagens eletrônicas executadas por disc-jóqueis (DJs) durante todo o percurso. Em apenas um dos trios, uma banda de pagode, a Nossa Juventude, se apresentou. As corporações policiais reforçaram o policiamento da 10ª Parada Gay da Bahia, com mais de mil soldados da Polícia Militar de prontidão no Campo Grande, na Avenida Sete, em São Bento e na Rua Carlos Gomes, e estruturas montadas pela Polícia Civil no Campo Grande e nas praças da Piedade e Castro Alves.

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