Produtor e noticiador do hoje

Fichamento do livro A fabricação do presente, de Carlos Eduardo Franciscato, elaborado em setembro de 2009, durante o 2º Semestre de Jornalismo do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), sob a orientação da professora Márcia Guena, docente da disciplina Prática de Reportagem

O título deste artigo foi acrescentado simultaneamente com a sua transcrição para este blog

Prefácio

O prefácio do livro A fabricação do presente foi escrito pelo professor Antônio Albino Canelas Rubim, diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, no qual ele elogia o autor da obra, Carlos Eduardo Franciscato, que foi seu orientando no mestrado e no doutorado sobre Comunicação e Cultura Contemporâneas na faculdade. Rubim também descreve, resumidamente, o conteúdo do livro escrito por seu discípulo, que é uma obra essencial para os estudos de teoria do jornalismo. Nesse livro, "o diálogo jornalismo-sociedade aparece de modo expressivo, através do acionamento de estudos das mais diversas áreas disciplinares". (RUBIM. In: FRANCISCATO, 2005, p. 12.)

Introdução

O autor descreve, em linhas gerais, a importância da atividade jornalística nas sociedades modernas e contemporâneas, demonstrando, principalmente, como o jornalismo e o tempo presente se inter-relacionam, sendo que este último fator é importante para a elaboração dos acontecimentos do cotidiano a serem publicados. O jornalismo, portanto, é a arte de trabalhar com os fatos ocorridos no tempo presente. Ele surgiu e se consolidou em um ambiente em que fatores tecnológicos e econômicos estiveram aliados a aspectos sociais e culturais. Os dois primeiros fatores criaram bases para que a produção incipiente alcance regularidade, enquanto os últimos foram responsáveis pela difusão social de uma série de componentes simbólicos, práticas, interações e hábitos.
"Esta temporalidade do presente que orientou as formas de institucionalização do jornalismo emergia de uma cultura do tempo presente que tinha, nas determinações estruturais da sociedade, fatores relevantes para sua constituição. Exemplo destas determinações são as sucessivas inovações tecnológicas no transporte e na transmissão de informações, que reduziram gradativamente o intervalo de tempo gasto nos deslocamentos e, ao mesmo tempo, introduziram novos modos de formatação do conteúdo adequados aos respectivos suportes de transmissão, sendo a digitalização e a comunicação por rede manifestações deste processo na transição para o século XXI." (FRANCISCATO, 2005, p. 19)
A urbanização, a formação de uma sociedade de mercado e a institucionalização de hábitos de leitura foram os principais fatores responsáveis pela formação de um modelo de jornalismo voltado ao mercado na Europa e na América do Norte no século XIX.

As relações entre jornalismo e sociedade fazem com que ele participe do processo de construção da experiência social do presente, contribuindo para a sua vivência social deste momento. O presente, então, é o tempo de referência para a realização de uma determinada ação humana.

A introdução é encerrada com uma breve síntese das quatro partes do livro, explicando o conteúdo de cada uma.

Parte I: Primórdios do jornalismo nas sociedades ocidentais

1.1: Publicações híbridas e aperiódicas marcam a aurora do jornalismo

Segundo Franciscato (2005, p. 26), a história do jornalismo começa entre os séculos XVII e XIX, períodos nos quais ele coexiste com outras produções culturais. Diferentes estudos apontaram que as primeiras publicações aperiódicas, nas quais apresentaram relatos de eventos (notícias rudimentares) surgiram na Europa entre os séculos XVI e XVII.

Foi na Inglaterra e nos Estados Unidos onde o jornalismo avançou de maneira significativa, tornando-se um importante meio de comunicação social. As primeiras publicações que circularam na Inglaterra do séculos XVII (corantos e pamphlets) traziam relatos de acontecimentos e periodicidades irregulares. A partir da metade do século XVII, surgiram novas publicações, os newsbooks, "produtos mais acabados e definidos editorialmente, com tamanho e periodicidade mais exata" (Idem, 2005, p. 27). Os newsbooks eram porta-vozes do Parlamento britânico e também atuavam como instrumentos agressivos de disputa política e literária. O jornalismo inglês se iniciou de fato na década de 1690, com o crescimento elevado no número de publicações em Londres.

Notícia, jornal e jornalismo

Este tópico ajuda-nos a diferenciar claramente os três termos: notícia, jornal e jornalismo.
"(...) o ato de comunicar os eventos mais recentes para membros de uma comunidade tem suas origens em tempos longínquos na história humana, com base em motivos e predisposições sociais para a interação, defesa, integração ou instinto para saber a respeito de coisas ou fatos novos" (Idem, 2005, p. 30)
As notícias, primeiramente, referem-se a esses conteúdos novos que circulavam pelas comunidades, por diversos meios. Eram divididas, historicamente, em orais, manuscritas e impressas. O jornal, por sua vez, surgiu como o principal suporte para a divulgação das notícias, e foi popularizado através de uma tecnologia criada no século XV: o sistema mecânico de impressão. Antes disso, por exemplo, as notícias eram mescladas com sermões dominicais nas Igrejas.

O surgimento dos jornais foi o grande responsável pela interação entre o jornalismo e a sociedade, pois a difusão da imprensa periódica mudou radicalmente o ambiente social. A partir daí, o jornalismo passou a desempenhar um papel social específico, institucionalizando novos hábitos, diferentes daqueles desempenhados por livros e folhetins. Para Franciscato (2005, p. 32), "o jornal se institucionaliza na sociedade para produzir um relato regular de eventos não vivenciados. Por outro lado, esta regularidade na produção e circulação de relatos cria um padrão de periodicidade."

1.2: O jornalismo se torna uma instituição social

O jornalismo passou a entrar em contato com a sociedade graças a uma série de transformações tecnológicas, como a invenção do sistema de impressão, e de aspectos sociais e econômicos, como a produção e circulação de jornais e a uma maior importância e influência que seus conteúdos trouxeram à vida política. Segundo a tese do economista inglês Jean Chalaby, defendida em 1996 com base no determinismo tecnológico que criou as condições para a impressão de jornais, "o jornalismo não é somente uma descoberta do século XIX, mas é também uma invenção inglesa e norte-americana". Portanto, os jornais da Inglaterra e dos Estados Unidos desenvolveram métodos que aperfeiçoaram o jornalismo naquele século, como a entrevista.

Chalaby também estabeleceu comparações entre as imprensas inglesa, estadunidense e francesa em relação às informações e outros fatores. De acordo com a tese, os jornais ingleses e estadunidenses tinham informações mais abundantes, recentes, frequentes e exatas; mais credibilidade e maior estrutura de cobertura jornalística internacional. Além disso, o jornalismo praticado na Inglaterra e nos Estados Unidos assume independência do campo literário, ao contrário da imprensa francesa.

No século XVIII, os jornais passaram a circular em diversas cidades europeias que não tinham universidades e editoras de livros e em países com elevados índices de analfabetismo. O jornalismo europeu, portanto, passou a desempenhar um importante papel na disseminação de informações sobre a vida cotidiana e no incentivo à leitura de publicações impressas.

Referências bibliográficas

FRANCISCATO, Carlos Eduardo. Introdução e Parte I: Primórdios do jornalismo nas sociedades ocidentais. In: Idem. A fabricação do presente: como o jornalismo reformulou a experiência do tempo nas sociedades ocidentais. São Cristóvão (SE): Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2005, pp. 15-36.

RUBIM, Antônio Albino Canelas. Prefácio. In: FRANCISCATO, Carlos Eduardo. Op. cit. São Cristóvão (SE): Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2005, pp. 11-13.

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