Prisioneiros domiciliares desafiam o pesadelo

Recantos produtores de paz e de tranquilidade, nossos dulcíssimos lares são mais do que simples moradas. São múltiplas sentinelas, fortalezas, fortificações, abrigos, trazendo-nos vigilância ostensiva contra as iniquidades e as atrocidades que os subprodutos da violência urbana nos rondam externamente. O acolhimento e a defesa encontram-se depositados nesses benditos e resistentes refúgios. Se houver alguma ocorrência crudelíssima, seríamos temporariamente prisioneiros domiciliares, a fim de nos escondermos das operações sanguinárias.

A criminalidade, na qual cidadãos brasileiros transformam-se em cúmplices e reféns, cria, em cidades grandes, como aqui em Salvador, um pesadelo sem proporções definidas. Referimo-nos, então, a um fantasmagórico clima de instabilidade e de vulnerabilidade a barbáries, onde a cumplicidade, a contravenção, a perfídia e a impunidade predominam instantaneamente nas comunidades, tanto humildes quanto milionárias. Gera, em consequência, um acumulador holocausto em praça pública. Para exorcizarmos essa crônica patologia urbana, não fugiremos de nossas casas para nos divertir e passear, principalmente nas badaladas noturnas, mais perigosas ainda.

Confrontando-se reciprocamente com cidadãos inocentes e até mesmo com a polícia, os bandidos são facínoras de um universo tirânico e continuamente atroz. Valendo-se de atitudes incomensuravelmente iníquas, eles são desprovidos de beneplácitos governamentais e de assistencialismos sociais. A sociedade, portanto, transforma-se em mero cúmplice da própria atrocidade exercida pelos mercenários, que nunca estão cônscios de seus benefícios e de seus valores. O que estão no crepúsculo, no ocaso, da grande massa oprimida, são suas ideias para a legítima defesa do voluntariado, da ajuda humanitária e do consolo.

Durante conflitos sangrentos, assemelhando-se a exterminadores campos de batalha, não é recomendável, nem aconselhável, nos aventurar nas ruas, praças e avenidas sem nenhum objetivo. Milhões de “aventureiros”, apesar de terem sua inocência e sua autoestima reveladas, tiveram suas vidas liquidadas em plenas guerras civis ou em outras atividades de elevado nível de periculosidade pública. Uma liquidação avassaladora, arriscando demasiadamente seus âmbitos societários. Educação e instrução, em compensação, são seus sonhos perdidos perpetuamente por força das suas minguantes perspectivas qualitativas e quantitativas.

Faremos das nossas habitações refúgios fortificantes, onde imperam a bem-aventurança, o amor, a compaixão, a concórdia, o mérito e a misericórdia. Obrigatoriamente, são sentimentos que devem dominar de modo supremo as deliberações harmoniosas e sinérgicas de todas as famílias. Em paralelo, nossas autoridades políticas deverão solucionar conosco as questões criminais pendentes, como as chacinas, os assassinatos, os morticínios, os linchamentos e os sequestros. Como fugas particulares para a nossa reconciliação, repousamos em inspirada paz para esquecermos os nossos efeitos negativos e incentivarmos constantemente a solidariedade.

O tormento externo é o inimigo número 1 das nossas jornadas pacificadoras rumo às constâncias do miraculoso portal celestial. Não devemos nos esfacelar em todas as nossas decisões. Cuidando do amor, que é o nosso majestoso santuário, temos convicção de que ele nunca exterminará, principalmente por intervenções malignas, pérfidas e selvagens. É por intermédio dessas perversidades que se processa a repugnante rebeldia, seja tácita ou demonstrada. Rebeldia e perseguição acionada por violentadores, adversários, mercenários, que deixa a sociedade absurdamente maculada, marginalizada e nefasta.

Vida segura, entre quatro paredes, só existe no interior de incontáveis residências, inclusive a de nossa família. Promovemos o culto pelo sublime amor e o entronizamos para que nossas metrópoles e cidades de pequeno e médio porte não continuem à míngua. O processo de liquidação de todo o tipo de violência, de injustiça, de opressão contra as instituições sociais vigentes possibilitará a partilha e a distribuição de bens. Criar intermináveis sentinelas por comunidades onde o doce lar não é tratado como prioridade provoca um profundo espólio que onera sobre as confissões do nosso pusilânime povo.

Por essa convincente razão, nós mesmos, compatriotas e concidadãos, fazemos de nossas residências suas guaritas particulares, privativas, em resposta à falta de segurança pública. Todo cuidado é essencial para que o poder público, conjuntamente com as forças comunitárias e a iniciativa privada, implante parâmetros e métodos cruciais, contrários ao medo e à contravenção que nos oprimem. Formemos uma frente única, uma caravana homogeneamente defensiva à paz, visando aniquilar a violência, uma das causas que tornam as nossas instituições sociais provincianas e retrógradas.

Comentários