Preocupado com os coletivos

O cotidiano dos grandes centros urbanos sempre é composto por meios de transporte que os deixa em intenso movimento. São homens, mulheres, automóveis, caminhões, caminhonetes, ônibus, micro-ônibus, vans, bicicletas e motocicletas. De que é feito o nosso cotidiano? Desses mesmos personagens que, às vezes, provocam muitos acidentes. Ninguém enfrenta com facilidade os caos que a cada dia surgem em todas as cidades. Quando isso acontece, independentemente da frequência, eu utilizo apenas meu consciente particular, que contribui para o meu controle comportamental.

Saindo do meu privilegiado e confortável sobrado na Boca do Rio, gasto pouquíssimos minutos para pegar um determinado meio de transporte coletivo, o bom e velho ônibus (para o povão, buzu). Com ele, é possível chegar a qualquer ponto imaginável da minha amada Salvador. Vou, por exemplo, à faculdade, onde tenho aulas importantes para eu me preparar para a carreira profissional, e à casa de minha simpática e adorada avó materna. Passear de coletivo, para mim, é um prazer, mas durante o trajeto pode haver alguns incidentes, como assaltos e blitzes. Cuidado com esses empecilhos.

Mesmo destinado às heterogêneas classes sociais, com predominância das classes CDE, e desprovido de itens que o deixa sofisticado, as empresas do sistema de transporte urbano de Salvador cobram aos passageiros um preço tão salgado, se comparado às embarcações do sistema ferry-boat que fazem a travessia até a ilha de Itaparica. Veja o tamanho do que o absurdo pode nos dar: R$ 2,30! Impressionante como a nossa vida é! Por que eles cobram tão caro assim??? Só questionando aos patrões, que ganham seus lucros para fazer a frota de ônibus rodar pela imensa cidade.

Os ônibus são, de fato, meras embarcações que caminham sobre o calorento asfalto metropolitano. No interior desse veículo de suma importância para a sobrevivência popular, vejo uma grande leva de gente, em especial trabalhadores de categorias profissionais diversas, que batalham cotidianamente para conseguir seus pequenos e médios salários. Se o buzu estiver completamente lotado por causa da ausência de um espaço vago para mim, fico em pé mesmo, sem reclamar às pessoas sentadas, ao condutor ou ao cobrador. Aí, eu pergunto silenciosamente: – Tem algum lugar disponível para eu sentar?

Passageiros que se dirigem às estações de transbordo mais movimentadas, como Lapa – a maior da Bahia –, Mussurunga, Pirajá, Iguatemi, Rodoviária e Barroquinha, por necessidade são obrigadas a enfrentar os problemas nascidos do desordenado crescimento da nossa metrópole. Eles enfrentam filas infinitas de veículos congestionados, obras de melhorias do sistema viário e o insuportável mau cheiro do esgoto lançado nos canais presentes em avenidas de vale. Quando aparece esse fétido e irritante odor, eu tapo meu nariz. Meus sentidos, assim como os nossos, são extremamente prejudicados por um terror ecológico.

Viajando por grandes avenidas, como a ACM e a Paralela, independentemente do sentido, o trânsito dessas vias é, por sua vez, confuso. Mesmo assim, não sou nenhum controlador ou inspetor de congestionamentos, sendo este um fenômeno natural, de qualidade transitória. Todos esses obstáculos não dependem de mim nem de nós. Vale guardar, na nossa memória, que nem sempre o fluxo do movimento ocorre ligeiramente. Há significativos e inesperados contratempos (os famigerados imprevistos), fazendo do dia a dia urbano uma maratona interminável de circulações de indivíduos e de veículos de transporte.

Não sou nenhum andarilho 24 horas, porque minha vida não foi nascida, criada e concebida para continuar e permanecer nas ruas, avenidas e praças durante um longo período. É por isso que tenho direito a aprazíveis e aliviados momentos de descanso, geralmente nas horas vagas. Perambular por toda Salvador pode me deixar tonto devido a inúmeros veículos, letreiros, pessoas, sons e mercadorias que nela contém, seja na Cidade Alta ou na Cidade Baixa. Sua majestosa diversidade socioeconômico-cultural, por ser de extraordinário valor, me agrada bastante, apesar de ela criar desconcertos rotineiros.

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