Pachecão faz agitar a juventude cantando fórmulas


Desde os tempos de colegial, passei a gostar muito das divertidas, engraçadas, alegres e contagiantes músicas compostas e interpretadas por um professor de Física mineiro que revolucionou o ensino dessa Ciência Exata, tornando-o superconhecido em todo o Brasil. Trata-se de José Inácio da Silva Pereira, cognominado Pachecão (entretanto, o sobrenome Pacheco, que originou seu apelido, não é seu sobrenome de batismo). Suas músicas ajudam o aluno a memorizar os conteúdos de Física, sobretudo as fórmulas, para que ele os saibam no cotidiano, em particular nos vestibulares.

Um dos meus ex-professores da disciplina no Colégio Montessoriano, Roberto Castro, popularmente chamado pelos amigos e alunos de "Batoré", nascido em Brumado, no sudoeste da Bahia, aplicou aos alunos do 1º Ano do Ensino Médio, em 2005, uma atividade avaliativa sobre Cinemática. Por sinal, ele incluiu, na mesma atividade, uma música sobre esse assunto, cuja letra é cheia de fórmulas de instantânea memorização. A canção, batizada mesmo de Cinemática, é um divertido e irreverente forró para que os alunos caiam no ritmo do aprendizado:

"Na hora do vestibular / Você precisa saber / Que no movimento uniforme só usa d = vt (1) / (um suave e descontraído coro feminino: inhame, inhame, inhame, inhame...) / E se ele for variado / Se ligue no que falei depois / v = v0 + at (2) e d = v0t + at²/2 (leia-se meio de at2)(3) / (inhame, inhame, inhame, inhame....) / Você, com essas três equações / Resolve qualquer movimento / Queda livre, lançamento / Vertical e horizontal / Basta trocar a (4) por g (5) e o d (6) pelo h (7) / Mas se não tiver o t / Torricelli (8) você tem que lembrar... / (o mesmo coro)"

Foi com essa música que eu ouvi falar de Pachecão pela primeira vez. As letras que ele cria e canta não citam nenhum sinal explícito de obscenidade, de ousadia e de pornografia. São composições que, apesar de serem descontraídas, são muito sérias, eficientes e concretas, trazendo diversos exemplos aplicados no dia a dia. Em junho de 2006, como estudante do 2º Ano, minha admiração e meu gosto pelas "usinas de decoreba" do professor Pachecão aumentaram ainda mais, com a imediata gravação, em CD virgem, de diversas músicas-conteúdos dele. Com isso, até relembrei a letra de Cinemática para eu curtir.

Quando comecei a curtir o CD, gostei de outras faixas, como as superdançantes Galileu e eu, uma espécie de encontro com as ideias do astrônomo italiano dos séculos XVI e XVII, Beleza arrasadora, sobre a força gravitacional de Newton, Indução eletromagnética e Bateu, bateu e entrou, explicando e compreendendo a diferença entre os fenômenos da reflexão e da refração. Outras músicas também chamaram minha atenção, com destaque para os pagodes Força que entra, meu bem, sobre o campo elétrico, e Vou colocar objeto dentro e fora, diferenciando as imagens formadas por um objeto em cada espelho (côncavo ou convexo).

Tome mais gosto: curto, ainda, a marchinha Campo magnético, cujo refrão repetitivo cita três fórmulas para se calcular essa grandeza vetorial; o frevo Corpos aflitos; e um country espetacular, Vem lamber ferida. O que essa frase, afinal, tem a ver com a Física? "Vem lamber ferida" é uma frase criada a partir da fórmula para calcular a velocidade de onda, para que os estudantes, inclusive os vestibulandos, a memorizem constantemente. Refere-se à fórmula v = λf, onde v é a própria velocidade, λ (leia-se lambda, uma letra grega) o comprimento de onda e f a frequência. Portanto, o título não apresenta vestígios obscenos e imorais.

A faixa que termina com chave de ouro o disco é superdançante demais. É o Rap do vestibulando, com diversas rimas e uma letra que descreve os duros desafios enfrentados por qualquer concorrente a uma vaga na universidade. Segundo Pachecão, "é só acreditar que no fim do ano tem... APROVAÇÃO!". Uma mensagem positiva para que toda a juventude pré-universitária brasileira estude bastante para vários exames e concursos da vida. O professor, que se transformou em celebridade nacional graças às participações em inúmeros programas de auditório, continua dando uma série de conselhos à galera antenada.

Notas na letra de Cinemática

(1) d = vt: Função horária do movimento uniforme (MU), ou seja, a distância (d) (ou espaço) é o resultado da multiplicação da velocidade (v) com o tempo (t).

(2) v = v0 + at: Função horária da velocidade no movimento uniformemente variado (Muv), sendo que a velocidade final (v) é resultado da soma da velocidade inicial (v0) com a multiplicação da aceleração (a) com o tempo (t).

(3) d = v0t + at²/2: Função horária do espaço no Muv, que, para mim, é uma complicada salada mista. Trata-se da multiplicação da velocidade inicial (v0) com o tempo (t), somada com a metade da multiplicação da aceleração (a) com o quadrado do tempo (t²).

(4) a: Aceleração.

(5) g: Aceleração da gravidade, usada apenas em queda livre e em lançamentos vertical e horizontal, substituindo a aceleração.

(6) d: Distância ou espaço.

(7) h: Altura, usada apenas em queda livre e em lançamentos vertical e horizontal, substituindo a distância.

(8) Torricelli: Refere-se a uma equação especial do Muv, criada pelo físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647), contemporâneo de Galileu. A equação de Torricelli é representada pela fórmula v² = v0² + 2ad, ou seja, o quadrado da velocidade final (v²) é igual ao quadrado da velocidade inicial (v0²) somado pelo dobro da multiplicação da aceleração (a) com a distância (d).

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