Poder e modernidade: qualidades do Cab

O Centro Administrativo da Bahia, símbolo da política do estado, reúne edifícios públicos construídos de acordo com as tendências contemporâneas da arquitetura

27 de junho de 2009

Num exuberante espaço cercado de Mata Atlântica, às margens da Avenida Luiz Viana Filho, mais conhecida como Avenida Paralela por estar localizada paralelamente à orla marítima de Salvador, está situado o Centro Administrativo da Bahia (Cab), complexo onde estão instaladas a maioria das repartições públicas estaduais e uma pequena quantidade de órgãos federais. Essas instituições possibilitam um perfeito equilíbrio político-administrativo, representando os três poderes ali presentes.

Como surgiu

O Cab foi implantado em 1972, no primeiro governo de Antônio Carlos Magalhães, em pleno “milagre econômico”, modelo de desenvolvimento que o Brasil adotou no governo do então general-presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). Foi através do “milagre” – que na verdade era só pura propaganda – que o Cab começou a ser construído numa área de vazio demográfico, muito além do Centro de Salvador. As principais causas que levaram à criação do complexo administrativo na nova área de expansão urbana – a Paralela – foram a decadência do Centro antigo, na época sede de repartições públicas, e o próprio crescimento de Salvador, com a construção de novas avenidas, realizada nas gestões municipais de ACM (1967-1970) e Clériston Andrade (1970-1975). Este último, por sinal, foi o prefeito na época da criação do Cab.

Os responsáveis pela implantação do Cab foram Mário Kertész – que mais tarde foi prefeito da capital baiana por duas vezes –, primeiro secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia, pasta criada em 3 de maio de 1971, no primeiro governo ACM, com o objetivo de promover o planejamento e o desenvolvimento urbano, científico e tecnológico do estado; o coronel Manoel Cerqueira Cabral, então chefe da Casa Militar do Governo do Estado e primeiro superintendente do centro, falecido recentemente; além do próprio ACM. Sua primeira construção a ser edificada foi a sede da Secretaria do Planejamento, em 1972.

Diversos órgãos estaduais funcionavam no Centro antigo antes de se transferir para o moderno complexo. Alguns exemplos: a Assembleia Legislativa, que antes de ganhar sede própria no Cab foi instalada provisoriamente em alguns andares do edifício Ranulfo Oliveira, sede da Associação Baiana de Imprensa, na Praça da Sé, entre 1960 e 1974; a sede da Governadoria, que até 1979 era o Palácio Rio Branco, na Praça Thomé de Souza; o Tribunal de Justiça, que funcionava no Fórum Ruy Barbosa; a Secretaria da Segurança Pública, na Praça da Piedade, no prédio que hoje abriga a chefia da Polícia Civil; e as secretarias da Agricultura e da Indústria, no atual Palácio dos Esportes, na Praça Castro Alves.

As artes modernas também marcam presença

Dezenas de edifícios, cuja quase totalidade foi projetada pelo arquiteto carioca João Filgueiras Lima, o “Lelé”, foram erguidos de forma contemporânea, arrojada e funcional. Em suas construções, foi utilizado concreto armado, por sua vez pré-fabricado, dando-lhes simplicidade, comodidade e harmonia com o belíssimo verde das paisagens idealizadas por Burle Marx (1909-1994) e com as avenidas desenhadas pelo urbanista Lúcio Costa (1902-1998), que lembram o traçado de Brasília, cujo projeto urbanístico – Plano Piloto – é de sua autoria.

As artes plásticas também são um fator de suma importância para a complementação do magnífico trabalho arquitetônico do Cab. Nas obras que ilustram a maior parte de seus edifícios, estão retratadas cenas do cotidiano e da cultura da Bahia, com destaque para o painel de Carybé, executado em concreto armado entre 1973 e 1974, na fachada do Palácio Deputado Luís Eduardo Magalhães, sede da Assembleia Legislativa.

Logo após o Viaduto Engenheiro Leonel Brizola, principal acesso ao Cab, muitas pessoas que vão por lá se deparam por aquele moderno, excêntrico e misterioso monumento de concreto armado em forma de balança, que simboliza o equilíbrio entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Trata-se do Centro de Exposições, concluído em 15 de março de 1975 e completamente restaurado e reequipado no segundo governo ACM, em 1º. de janeiro de 1981.

Somente três prédios foram total ou parcialmente incendiados: a Assembleia Legislativa, em 20 de novembro de 1978; o Tribunal de Contas do Estado e dos Municípios, em 2 de janeiro de 1999; e a Secretaria da Educação, em 2 de outubro de 2003. Após o incêndio da sede desta última pasta, ela passou a ser instalada no prédio onde anteriormente abrigava o extinto Instituto de Assistência e Previdência Social do Estado da Bahia (Iapseb).

Muito além das instituições

Não é só de órgãos estaduais que o Centro Administrativo da Bahia é composto. Há, dentro dele, um espaço reservado para as repartições federais. É a Avenida Ulysses Guimarães, no bairro de Sussuarana, batizada em homenagem a um dos políticos mais influentes e honestos do Brasil e um dos reconstrutores da democracia no país. Lá estão instalados o Fórum Teixeira de Freitas, sede da Justiça Federal na Bahia; a sede do Instituto Pedro Ribeiro de Administração Judiciária (Ipraj); a Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), entre outras autarquias da União.

Dentro do Cab, existem dois estabelecimentos não administrativos: o Colégio Estadual Bolívar Santana e uma igreja, além de vários estabelecimentos comerciais na Avenida Ulysses Guimarães.

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