Contato com a cultura dos nossos ancestrais

A convite do professor Marlon Marcos, estudantes de Jornalismo da Unijorge visitaram o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais antigos de Salvador

21 de maio de 2009

Alunos de Jornalismo da Unijorge visitando o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá em 20 de maio de 2009
(Foto: Marlon Marcos)

Ontem foi um dia muito especial para nós, alunos do primeiro semestre de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), pois o nosso professor de Antropologia, Marlon Marcos, nos conduziu a um ambiente estranho, onde convivemos com outra civilização, outra cultura e outra sociedade, que é exatamente a africana. É da África onde vieram os nossos ancestrais que, aliados ao índio nativo e ao colonizador português, formaram o mestiço, heterogêneo, poderoso, corajoso e hospitaleiro povo brasileiro, um alegre e extraordinário mosaico étnico.

Marlon e nós, futuros jornalistas, fomos ao terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, localizado em São Gonçalo do Retiro, no Cabula, para uma observação participante com o objetivo de investigar antropologicamente o local, sendo recepcionados pela professora aposentada Célia Maria Silva.

A primeira etapa da nossa aula de campo foi a visita ao Museu Ilê Ohum Lailai (“casa das coisas antigas”), onde estão expostos permanentemente diversos objetos e costumes típicos da cultura afro-brasileira. No museu, encontramos instrumentos musicais de percussão, pertences das antigas ialorixás (mães-de-santo), armas, adereços, ebun etutu (surpresas de festa), representações dos orixás, folhas sagradas, comidas, enfim, toda a identidade cultural da Mãe África.

No memorial, há também o Espaço Azul ou Iyá Kayodé, em homenagem a Maria Stella de Azevedo Santos, a Mãe Stella de Oxóssi, atual ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, uma reunião de peças históricas do seu acervo particular. Entre vários objetos expostos no Espaço Azul estão a cadeira e a máscara que Mãe Stella recebeu por ocasião de sua viagem ao Benin, em 1988; fotos; medalhas e o quadro “Caçador de uma flecha só”, pintado por Reinaldo, então aluno da Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, situada no terreiro, em 1999. O Ilê Ohum Lailai foi criado em 1981 por Mãe Stella e pela filha-de-santo Vera Felicidade, e reinaugurado, após restauração, em maio de 2000, com a presença do então ministro da Cultura, Francisco Weffort.

O Ilê Axé Opô Afonjá, que significa “casa da força sustentada por Afonjá”, surgiu em 1910, no Pelourinho. Sua fundadora foi Eugênia Anna dos Santos, a Mãe Aninha, responsável pela liberação do culto afro-brasileiro, perseguido pelas tropas policiais no início do século passado. Com a fundação de um dos tradicionais terreiros de candomblé de Salvador, Mãe Aninha se tornou a primeira ialorixá até a sua morte, em 1938. Outras ialorixás se seguiram no comando: Mãe Bada (1939 a 1941), Mãe Senhora (1942 a 1968), Mãe Ondina ou Mãezinha (1969 a 1975) e Mãe Stella, empossada em 10 de julho de 1976, permanecendo até os dias atuais.

Cada casa do terreiro homenageia um orixá: Oxalá, Xangô, Oxum, Oxóssi, Omulu, Yemanjá, Iansã... Entramos em uma das casas mais bonitas e espetaculares do Ilê Axé Opô Afonjá: a Casa de Xangô, que é a construção principal, e nos reunimos, agachados, com mãe Stella de Oxóssi, matriarca há quase 33 anos, que aos 84 anos conserva sua energia, sua juventude e seu vigor. Na fachada da Casa de Xangô, uma bela e enorme escultura de fibra de vidro, de autoria do artista plástico Tati Moreno, retrata com coragem o orixá da justiça.

Nossa observação participante ao terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, além de ser bastante proveitosa e de fundamental importância para a formação profissional jornalística, terminou com um forte abraço do professor Marlon a dona Célia, sua fiel auxiliar durante toda essa longa jornada de valorização etnográfica.

Para finalizar, agradeço a todos os alunos do primeiro semestre de Jornalismo da Unijorge, principalmente àqueles que estiveram presentes na referida aula de campo: Ágata Fidelis, Amanda Carvalho, Ana Paula Maquiné, Bruna Correia, Bruna Esteves, Bruna Francesca, Camila Marinho, Caroline Garrido, Caroline Patriarca, Daiane Oliveira, Danilo Silva, Fernanda Magalhães, Luíza Mazzei, Maíra Figueiredo, Mariane Vieira, Mayra Lopes, Paulo Campos, Rafaela Hasselmann, Suiá dos Santos, Thamires Assad, Theisse Ávita e Whidianny Mayara, além de mim mesmo, que sou presença constante em outras atividades extraclasses.

Também quero dedicar esta maravilhosa crônica ao nosso grande professor de Antropologia, Marlon Marcos, e principalmente ao Ilê Axé Opô Afonjá pela valiosa contribuição, pelo estímulo, pelo carinho e pelo AXÉ durante a sua elaboração. Além dos alunos relacionados acima, quero agradecer àqueles que se ausentaram desse importante trabalho, como Lindiwe Aguiar, símbolo da resistência, da esperança e da força negra da Bahia.

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